segunda-feira, janeiro 19, 2009

"Sobreviver a 2009"

Não simpatizo muito com a senhora, mas confesso que gostei muito desta crónica que a Luísa Castel-Branco escreveu no Destak:

"Recordo há 30 anos quando o meu primeiro filho nasceu o quanto era difícil comprar leite, iogurtes, uma simples banana. Não existiam casas para arrendar e estávamos longe do crédito bancário que mais tarde iria permitir a tantos comprar casa. Recordo-me da falta de gasolina, das greves gerais dos transportes colectivos. Da inflacção inacreditavelmente alta, do FMI que por aí entrou, da falta de trabalho.
Não existiam então fraldas descartáveis e, por isso, muitas mulheres, tal como eu lavávamos as de pano à mão, muitas vezes na banheira e secavam no aquecimento porque eram poucas.
Lembro-me de juntar soja à carne para fazer esticar as refeições, três filhos era obra! Anos consecutivos em que não havia dinheiro para férias, porque era preciso pagar os ATL quando as aulas terminavam. A roupa que vinha dos primos mais velhos e depois era usada pelos mais novos, até não aguentar mais. Os sapatos de ténis que tinham vida curta, e eram substituídos pelos mais baratos que havia numa loja ali no Calvário. Enfim, houve seguramente quem tivesse uma vida mais fácil e quem a tivesse muito mais difícil. Tudo isto me veio à memória perante a tão anunciada crise para este ano. Para os mais jovens que não viveram esses anos de sufoco, deixo aqui um testemunho: o instinto de sobrevivência leva-nos a ultrapassar as maiores dificuldades. A verdadeira questão não está em se vamos ou não conseguir sobreviver a 2009, mas sim, que seres humanos vamos ser depois. É fácil cair na revolta, na amargura. Difícil mesmo é ter coragem de encarar a vida tal como ela é: um desafio permanente."

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