domingo, maio 03, 2009

O científico também pode ser emotivo


O painel que mais me comoveu (sim, nos congressos também nos emocionamos), foi: “Proteger a los mas vulnerables: los niños ablam”, 6ª feira às 12 horas. Uma professora com experiência de 33 anos, que ensina crianças hospitalizadas. Afinal a educação é um direito de todas as crianças, inclusivamente das que por alguma infelicidade estão internadas. Uma frase marcante: “a primeira vez que um menino “meu” morreu, o mundo parou para mim”.
Depois, uma educadora social, mãe de uma menina que mal nasceu, o médico disse-lhe que tinha uma doença congénita, degenerativa, pelo que viveria apenas 2 anos. Um testemunho que pôs toda a audiência a chorar (não fossemos a maioria mulheres) … impressionante. Uma força quase inexplicável! Depois de chorar muito, de passar 24 horas no hospital, percebeu, com a ajuda da tal professora e de uma vasta equipa de profissionais que por mais que chorasse a filha não ficaria melhor, por isso decidiu aproveitar todos os momentos. Incrível. Enquanto o pai e os avós ficavam com a outra filha, uns anos mais velha, a ser educada por telefone pela mãe, esta mulher vivia um dia de cada vez, vendo a morte de muitas crianças que estavam também hospitalizadas, mas sobretudo proporcionando à filha as mais variadas experiências de vida próprias da vida de uma criança. Enfim… poderia escrever muito mais, mas não quero pôr-vos a chorar, até porque esta mulher conseguiu dar a volta à situação de uma maneira extraordinária. Fez-nos ver que alguns dos nossos problemas não o são na realidade, são coisas que correm menos bem, e com as quais não contávamos, mas o que é pior do que ter um filho com uma doença deste tipo, sabendo que a qualquer momento pode morrer? Ela preparou o funeral ao pormenor, fazendo ver a todos que a morte de alguém que amamos não é o fim da vida e que apesar de ficar a saudade temos de continuar. Hoje ela trabalha com mães que passam pelo mesmo que ela passou. “Fomos mais felizes em 5 anos de vida da minha filha, do que muitas famílias são em toda uma vida”.
Uma grande lição de vida! Uma bofetada de luva branca!
Ainda uma técnica que trabalha numa casa de família, aquilo que em Portugal é um Centro de Acolhimento Temporário. Casas com 8 crianças no máximo, provenientes de agregados familiares desprotectores. Um menino de 8 anos a vomitar muito e que de repente expele uma cápsula de droga. Uma menina que aos 15 anos já tinha feito 5 abortos (servia frescos em casa enquanto convivia com autênticas orgias sexuais). Um menino de 7 anos que não falava porque depois da mãe (doente mental) o ter tido foi internada numa hospital psiquiátrico, e ele foi deixado numa oficina, sem contacto com ninguém, só iam lá alimentá-lo e dar-lhe coisas de madeira para fazer artefactos. Só sabia dizer: machado e filho da…
Infelizmente são “apenas” três casos dos muitos existentes por este mundo fora. Em Portugal temos 11000 crianças em instituições, retirados às famílias por estas e outras razões tão ou mais atrozes.
Uma coisa trouxe deste congresso: nem que salvemos uma ou duas crianças, vale a pena continuar a investigar, trabalhar e apoiar estas crianças e adolescentes que se vêem involuntariamente envolvidos em situações que nem um animal (irracional) deveria sofrer.
Pode ser só uma, mas para ela o mundo muda se conseguirmos proporcionar-lhe uma infância feliz e completa.

1 comentário:

Sara CS disse...

Fico sem palavras...